segunda-feira, setembro 19, 2016

Fashion Ave. 7av. W29 st.


Quando, em 2014, fui pela primeira vez aos Estados Unidos, uma das coisas que mais quis desenhar eram as escadas de incêndio nas traseiras dos prédios...

Neste dia 11 de fevereiro, decidi que ficaria o tempo que fosse preciso a desenhá-las. 
Entrei para tomar o pequeno almoço no Prêt-a-Manger e sentei-me bem encostado à montra. O meu depósito de tinta da china estava a esgotar-se. Carregava com o pau de madeira e parecia que o algodão estava encharcado, mas era cada vez mais difícil de fazer uma linha contínua...

Abri o caderno gigante (que ocupava toda a mesa), empurrei o copo de café (large size) mais para a frente da mesa para ter espaço e lá me lancei no desenho. Do meu lado direito desta 7Av. ficava o Fashion Institute of Technology e, a esta hora da manhã (sim, porque ainda estava com jetleg e a acordar às 6h30, o que resultava em pequenos almoços pelas 8h), viam-se muitos alunos a caminhar em direção à faculdade. Um deles parou lá fora e ficou a olhar para o meu caderno durante uns segundos. Depois seguiu, porque nesta cidade é difícil parar. Entrou depois uma australiana. Pensou que eu era Nova Iorquino e começou a elogiar o espírito artístico da cidade, que era exactamente isto que ela queria mostrar às suas alunas (que estavam para chegar): como se pode desenhar em todo o lado. As alunas entraram passados uns 5 minutos e ela virou, finalmente, a atenção desmesurada para elas. 

Continuei...

Passado uns 10 minutos, o rapaz que tinha parado lá fora na montra a olhar para o desenho estava ao meu lado! 
- I'm the guy who stopped out there looking at your drawing. - disse ele como que a justificar-se.
- Really?! - não queria mesmo acreditar, até porque estava a lutar com o desenho para que se salvasse e não era possível que chamasse assim tanto a atenção...
- I'm amazed about your technique. Nowadays we don't see people sketching with such an ancient Asian technique as you're using.
- I learned from a excellent sketcher living in Malaysia, but I'm still trying to understand and control it. - (embaraço...)

Depois perguntou-me de onde era, deu-me os parabéns e foi-se embora.
Bebi mais um gole de café já morno.
Olhei lá para fora.
Fechei o caderno e saí.

3 comentários:

Henrique Vogado disse...

As estórias que acompanham os teus desenhos complementam mesmo bem os traços.
Não deve ter sido nada fácil conseguir desenhar com as interrupções.
Não esperava que fosse tão grande surpresa ver alguém a desenhar em NY. A diferença em relação a Lisboa, é que as pessoas interrompem mais.
Abraço.

Filipe Pinto disse...

Já estou a imaginar um livro... Crónicas de Nova Iorque :)

Mário Linhares disse...

Henrique, acho que a surpresa era haver alguém a desenhar com 10º negativos...
As estórias, muitas vezes, são a alma do desenho! :)

Filipe, os desenhos que fiz lá não chegam para um livro! ;) Mas nunca se sabe...